Os incêndios que devastam áreas da Chapada Diamantina já duram mais de um mês e colocam em risco o equilíbrio hídrico e ecológico da região.
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Foto: Mateus Pereira/GOVBA |
Nesta terça-feira (24), os focos de incêndio nas localidades de Morro Branco, no Vale do Capão (município de Palmeiras), e Barro Branco, em Lençóis, foram finalmente controlados, trazendo um alívio momentâneo para os voluntários e brigadistas que atuam incansavelmente no combate às chamas. A chegada da chuva durante a noite contribuiu para conter parte do fogo, mas o perigo ainda não passou completamente.
Segundo César Gonçalves, chefe interino do Parque Nacional da Chapada Diamantina, ainda há focos ativos escondidos em fendas de difícil acesso. “Esses pontos só devem ser eliminados com a chuva. Não conseguimos acessá-los diretamente para apagar. O que fazemos agora é impedir que o fogo se alastre dessas áreas isoladas”, explicou. A previsão meteorológica indica possibilidade de mais chuvas a partir de sexta-feira (27), segundo a Climatempo.
Ao longo de novembro, o Parque Nacional já perdeu cerca de 9 mil hectares de vegetação, de acordo com Gonçalves. No total, estima-se que aproximadamente 30 mil hectares tenham sido consumidos pelas chamas em toda a Chapada Diamantina, conforme informações da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia.
O incêndio, que chegou ao 32º dia consecutivo nesta terça-feira, teve intensificação significativa a partir do dia 11, conforme relatos da Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão.
Impactos Ambientais Profundos: Solos, Nascentes e Rios Sob Ameaça
A Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (BRAL) já identificou diversos danos ambientais causados pelos incêndios, que vão muito além da perda da vegetação nativa. A Chapada Diamantina é berço de nascentes de importantes rios baianos, como o Paraguaçu, de Contas, Salitre, Paramirim e Jacaré – essenciais para o abastecimento de cidades como Feira de Santana e parte da Região Metropolitana de Salvador.
Segundo Diego Serrano, engenheiro florestal da BRAL, o fogo também afeta diretamente o solo, prejudicando a dinâmica natural da água na região. “As turfas – solos orgânicos que atuam como reservatórios naturais de água – estão sendo queimadas. Elas funcionam como esponjas que mantêm o fluxo dos rios regular ao longo do ano. Com sua destruição, os rios podem secar mais facilmente ou transbordar nas chuvas”, explica Serrano.
Além disso, os incêndios comprometem a mata ciliar e centenas de nascentes de água potável. “A evaporação de água durante o fogo foi imensa e impossível de calcular”, pontua Rodrigo Valle, engenheiro ambiental e também membro da equipe da BRAL.
A consequência direta é o aumento da erosão, com os solos expostos sendo levados para os rios, promovendo o assoreamento e a deterioração da qualidade da água. Com as primeiras chuvas, as cinzas acumuladas nas áreas queimadas são levadas para dentro dos leitos, carregando nutrientes como fósforo e potássio, que aceleram a proliferação de algas e bactérias, tornando a água imprópria para consumo humano.
Preservação da Chapada: Um Desafio Coletivo
Ainda que não haja um levantamento exato sobre a extensão do impacto nos recursos hídricos, especialistas como César Gonçalves e o secretário de Meio Ambiente, Eugenio Spengler, concordam que as consequências para os rios da Chapada Diamantina serão significativas. “O desmatamento compromete a capacidade de retenção de água no solo e aumenta os riscos de erosão”, alerta Spengler.
Com a perda da vegetação nativa, o equilíbrio ecológico da região está ameaçado. Restaurar os danos levará tempo e exigirá ações conjuntas de conservação, reflorestamento e monitoramento.
Planeje sua Viagem com Consciência
A Chapada Diamantina continua sendo um dos destinos mais encantadores do Brasil, mas exige cada vez mais responsabilidade de todos – turistas, moradores, autoridades e empresas.
- Ao visitar a região, opte por agências e guias comprometidos com o meio ambiente.
- Respeite trilhas e áreas protegidas.
- Evite o uso de fogo em qualquer circunstância.
- Apoie iniciativas locais de reflorestamento e educação ambiental.