A Chapada Diamantina é um verdadeiro paraíso para quem ama natureza, trilhas e cachoeiras. Mas, como qualquer destino de ecoturismo, é importante conhecer os riscos à saúde que podem estar presentes — especialmente quando se trata de parasitas e insetos transmissores de doenças.
Foi o que aconteceu com um grupo de 32 ciclistas mineiros em uma excursão pela região. Ao se refrescarem nas águas cristalinas do Poção, em Lençóis, não imaginavam que o local estivesse contaminado pelo Schistosoma mansoni, o parasita causador da esquistossomose. A notícia da contaminação só veio meses depois, e o Poção foi interditado no dia 5, gerando alerta entre os amantes do turismo de natureza.
![]() |
Rio Preto em Ibicoara | Foto: Reprodução |
Entenda os riscos e como se prevenir
Segundo o professor Artur Dias Lima, especialista em Biologia Parasitária, não há motivo para eliminar o Poção da lista de visitas — desde que os cuidados básicos sejam tomados. Doenças como esquistossomose, febre amarela e leishmaniose são comuns em regiões naturais do interior baiano, e o primeiro passo é a informação.
“As pessoas, em geral, não conhecem os vetores dessas doenças. O ideal seria que aprendessem a identificá-los e procurassem um médico ao menor sinal de contato ou sintomas”, afirma Lima.
A esquistossomose é particularmente frequente em áreas com saneamento básico precário. A Bahia, junto com Minas Gerais e Pernambuco, concentra boa parte dos casos no país.
Dica essencial:
Se não houver informação sobre a situação do esgotamento sanitário de um local com água doce, o mais seguro é evitar o banho, conforme orienta o pesquisador Mitermayer Galvão:
“Antes de entrar na água, é preciso mapear a área e se informar”.
Situação atual do Poção em Lençóis
O Poção segue interditado até a conclusão da investigação. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) informou que a Vigilância Epidemiológica continua apurando os casos, mas ainda não há previsão para divulgação dos resultados.
Artur Dias Lima defende a instalação de placas informativas nos locais com risco de contaminação:
“A própria vigilância sanitária deveria mapear e sinalizar esses pontos de risco”.
Além da Chapada Diamantina, outras regiões com histórico de esquistossomose incluem o Vale do Jiquiriçá e o Vale do Almada. Por isso, é fundamental que o visitante se informe com antecedência.
Doenças transmitidas por insetos
Não são apenas os caramujos que representam perigo. Insetos também podem transmitir doenças graves. Entre as principais estão:
- Leishmaniose: transmitida pelo mosquito flebotomíneo, pode causar feridas na pele e afetar a mucosa, resultando em desfigurações.
- Febre amarela: transmitida pelo Aedes aegypti, pode ser fatal. Um surto recente ocorreu em cidades baianas, e a vacinação é recomendada, especialmente nas cidades do oeste do estado.
Em Salvador, 111 unidades de saúde estão aplicando a vacina gratuitamente na rede pública, com reforço das doses pelo Ministério da Saúde.
Como se proteger:
- Use repelente regularmente.
- Vista roupas que cubram a maior parte do corpo.
- Prefira trilhas sinalizadas e mantidas, que oferecem mais segurança.
- Informe-se sobre os horários de maior atividade dos insetos vetores.
Planejamento é o segredo de uma viagem segura
Paulo Faria, coordenador do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, reforça que o planejamento da viagem deve incluir pesquisa sobre doenças típicas da região:
“Cada doença exige um cuidado específico. Saber quais ocorrem no destino é o primeiro passo para se proteger”.
Medicina do Viajante: um recurso valioso
Pouco conhecida no Brasil, a medicina do viajante oferece orientações específicas para quem vai se aventurar por destinos naturais. Em Salvador, o Ambulatório dos Viajantes do Hospital das Clínicas, no bairro do Canela, atende às quintas-feiras com agendamento prévio.
A infectologista Jacy Andrade, professora da Ufba, lembra que muitos turistas focam apenas em passagens, hospedagem e clima, e esquecem de checar os riscos à saúde.
“É essencial saber onde buscar atendimento em caso de acidentes com animais peçonhentos ou desenvolvimento de sintomas”, alerta.
Outros cuidados importantes
Além das doenças infecciosas, a fauna local pode representar riscos. Animais peçonhentos como cobras, escorpiões e aranhas exigem atenção.
Para se proteger:
- Use botas e roupas grossas em trilhas.
- Evite sentar ou colocar as mãos em tocas ou locais escuros.
- Em caso de picada, procure imediatamente atendimento médico.
Aventura com responsabilidade
Viajar pela Chapada Diamantina é uma experiência transformadora. Mas, para aproveitar ao máximo as belezas naturais da região, é essencial se preparar — informando-se, prevenindo-se e respeitando os limites da natureza.
A sua segurança também faz parte da aventura. Antes de mergulhar em rios, cachoeiras ou trilhas, lembre-se: planejamento é tão importante quanto o espírito aventureiro.
✅ Gostou das dicas?
Acompanhe mais conteúdos como este no Instagram do Ibicoara de Todos e planeje sua próxima viagem com segurança e consciência ambiental.