Turismo de natureza e aventura são seguros na Chapada Diamantina? - Ibicoara de Todos

Turismo de natureza e aventura são seguros na Chapada Diamantina?

A importância do planejamento prévio e da análise de riscos no local escolhido para cada aventura

Por Marcela Moura
Morro do chapéu, Gruta dos Brejões (Foto: Reprodução Wikipedia)
Morro do chapéu, Gruta dos Brejões (Foto: Reprodução Wikipedia)

Nos últimos anos, a procura pelo turismo de natureza e aventura aumentou exponencialmente. Em boa parte, isso se deu pelo longo período de isolamento por causa da pandemia, que trouxe um desejo de reconexão e contato com a “vida selvagem”. 

O ser humano é parte da natureza, e como tal, sente a necessidade de estar com os pés no chão, de sentir o vento e de ouvir o canto dos pássaros, o som das águas e até mesmo o silêncio das matas e, assim, se conectar com o meio ambiente. 

E é por isso que viajar para destinos como a Chapada Diamantina, que oferece tantas opções de atividades do turismo de natureza e para todos os gostos, é tão maravilhoso! 

Mas é bom lembrar que, quando estamos em tal território, existem diversos fatores externos que devem ser levados em consideração para que a aventura seja o mais segura possível. 

Após alguns acidentes naturais em outros destinos brasileiros, nos sentimos no dever de buscar informações esclarecedoras sobre a segurança durante as práticas desse tipo de turismo na Chapada Diamantina, quais são os riscos que existem e como mitigá-los.

Para isso, entrevistamos Carolina Chagas, consultora de turismo de aventura da empresa D’aventura (ao final desta matéria você pode conferir a entrevista na íntegra). 

Carolina ressaltou a importância do planejamento prévio e da análise de riscos no local escolhido para cada aventura. Caso o local selecionado seja um rio ou cachoeira, por exemplo, é essencial checar a precipitação (probabilidade de chuvas) em toda a região e nas nascentes do rio em questão. 

“Com a tecnologia a nosso favor, hoje existem uma série de apps na palma da nossa mão que podem auxiliar o condutor e o turista a analisar as condições do tempo antes de ir para a sua prática” – afirma a consultora.

A informação é peça-chave para a aventura ser bem-sucedida. O turista deve ser consciente dos desafios de cada passeio, e estar apto a eles. Além disso, é imprescindível a escolha de um condutor habilitado e experiente, munido de todas as ferramentas necessárias para a realização da empreitada! 

“Ele (o condutor), não só por qualificação, mas por  experiência de observação do local, conhece o comportamento do clima na região, conhece áreas de fuga em caso de emergência e deve ser capaz, inclusive, de abortar uma atividade mesmo depois de iniciada, caso avalie que envolve riscos não toleráveis para as pessoas” – exalta Carolina. 

Uma vez que alguma situação de emergência de fato ocorra, o turista preparado possuirá a principal ferramenta: a calma de quem sabe com o que está lidando. Assim, as chances de a situação ser contornada aumentam imensamente. 

Por isso, querido turista, planeje-se bem, siga as normas de segurança, contrate um guia local qualificado e nos vemos pelas trilhas da vida!

ENTREVISTA NA ÍNTEGRA (com Carolina Chagas):

Dicas para uma imersão na natureza com segurança. 

– Como podemos prever fatores naturais, como cabeças d’água, dentre outros?

Praticar atividade de aventura na natureza requer planejamento prévio e análise de risco. 

Riscos como cabeças d’água estão associados a períodos de chuvas, portanto monitorar a meteorologia é fundamental. É importante ressaltar que a análise de probabilidade de precipitação deve ser não apenas no local da atividade como em toda a região e nas nascentes dos rios.

Com a tecnologia a nosso favor, hoje existem uma série de apps na palma da nossa mão que podem auxiliar o condutor e o turista a analisar as condições do tempo antes de ir para a sua prática. 

É certo que existem outras análises mais complexas que devem ser feitas por especialistas, como riscos de desmoronamentos, por exemplo. E nesse ponto, fica evidente a responsabilidade de múltiplos atores requerida pelo turismo de aventura.  

Cada envolvido precisa fazer a sua parte no sistema turístico: órgãos públicos devem planejar, regular e fiscalizar; prestadores de serviço devem seguir a legislação e normas vigentes. 

Já o turista tem o importante papel de pesquisar empresas regulares e destinos seguros, assim como conhecer as habilidades requeridas para a atividade de sua escolha e preparar-se para realizar uma aventura segura.

– Como minimizar os riscos quando expostos a locais de natureza selvagem?

Primeiro de tudo, planejar! 

Existe uma norma internacional, a ABNT NBR ISO 21.101 – Turismo de Aventura – Sistema de Gestão da Segurança – Requisitos, que dá as diretrizes para que os prestadores de serviço ofereçam uma atividade segura. 

A maior abordagem dessa norma é preventiva, isto é, conhecer e minimizar os riscos. Entende-se que a melhor forma de um turista se proteger é fazer uma aventura consciente dos perigos e cuidados que se deve tomar. 

Quando a gente vai para uma trilha sabendo que o dia será quente, temos de reforçar a nossa hidratação e proteção solar, assim como quando sabemos que determinada trilha íngreme está muito escorregadia por causa das chuvas, podemos decidir por não fazê-la, ou fazê-la destinando mais tempo, com mais calma e levando conosco equipamentos de suporte, como uma corda, por exemplo. 

Enfim, planejamento é a chave para uma prática mais segura. Os riscos existem, porém, é possível minimizá-los buscando a informação para a tomada de decisões adequadas a cada situação.

E, sem dúvida nenhuma, o condutor local formado, com toda sua experiência e treinamentos, é a melhor forma de se realizar uma prática segura. 

Ele, não só por qualificação, mas por experiência de observação do local, conhece o comportamento do clima na região, conhece áreas de fuga em caso de emergência e deve ser capaz, inclusive, de abortar uma atividade mesmo depois de iniciada, caso avalie que envolve riscos não toleráveis para as pessoas.

– Uma vez que estamos em uma situação de emergência, como agir?

Primeiro, precisamos ter calma. Isso é sempre mais fácil quando há o planejamento anterior, ou seja, quando estamos preparados. 

A partir daí é fazer análise de cenário: se possível, buscar um lugar seguro, verificar se a emergência gerou vítimas, qual o dano aparente dessas vítimas, se for o caso, buscar comunicação para um possível resgate e analisar recursos humanos e equipamentos disponíveis para eventual evacuação no momento correto. 

É importante ressaltar que cada situação de emergência requer uma análise específica, o importante é estar preparado com informações e equipamentos para agir corretamente.

– Alguma outra recomendação direcionada ao turista que opta por este tipo de turismo?

É fundamental que os turistas de aventura procurem empresas regulamentadas e que sigam a legislação. 

A Lei Geral do Turismo obriga as empresas dessa natureza a terem um sistema de gestão da segurança implementado. 

Então, o primeiro questionamento a se fazer é: essa empresa controla os riscos da atividade? Demonstra saber o que fazer em caso de acidentes? Prestou as informações mínimas necessárias para eu decidir pela compra? Possui os equipamentos adequados e profissionais qualificados para a prática?

Hoje, o turismo de aventura conta com dezenas de normas técnicas que apóiam na qualificação do segmento. 

O Brasil é referência mundial nesse quesito, tendo várias normas brasileiras sido a base para a criação das normas internacionais. 

É preciso que haja seriedade por parte das empresas para que se apropriem desse grande know how que temos. 

Para isso, órgãos públicos devem fiscalizar as empresas. Vale ressaltar que a ABETA – Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, tem feito um importante trabalho de qualificação e conscientização do segmento. 

O turista também precisa ser conscientizado sobre a importância do turismo de aventura seguro, para que tenha apenas boas lembranças das viagens na natureza.

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