Concluir custa caro: A explicação para os precinhos nada camaradas está na estrutura necessária para uma faculdade ter o curso de Medicina
Médicos só trabalham com números altos. A concorrência no vestibular é alta, o investimento na formação é alto e o retorno financeiro também é. Olhe para as duas imagens desta página e saiba que elas custam quase a mesma coisa.
A mensalidade do curso que abre na Unime este mês custa R$ 5,9 mil reais, o que multiplicado pelos seis anos de duração dá um total de R$ 424,8 mil. Dá para comprar o Porsche da foto abaixo e, com o troco, três TVs de LED full HD de 40 polegadas. Em compensação, num plantão de um único dia, um médico tira por volta de R$ 1,2 mil.
As quatro faculdades particulares já existentes no estado têm preços nada acessíveis (veja tabela na página), mas nem por isso faltam alunos. “Meus pais pagavam com a ajuda de uma tia. Além da mensalidade, ainda tinha o transporte, alimentação e os livros, que eram muito caros. Então eu me virava com xerox e a biblioteca, que era muito boa”, lembra Allan Xavier, ex-aluno da FTC e médico há pouco mais de três anos.
“Tem livro de anatomia que custa R$ 900 e uns cursos por fora, de dois dias, que saem por R$ 200”, acrescenta Marília Galvão Cruz, aluna da Bahiana. Ela destaca ainda que, como tem aulas em vários hospitais, acaba rodando a cidade inteira e gastando uma nota com gasolina. “Por sorte, consigo revezar com minha vizinha”, diz.
A mensalidade do curso de Medicina da Unifacs custa mais de R$ 5 mil, o que é justificado pelo alto investimento em laboratórios (Foto: Marina Silva)
Estudante da Unifacs, Ana Flávia Freire da Silva só consegue arcar com as mensalidades de R$ 5.088 graças ao Fies. “Consegui um financiamento de 100%, mas, mesmo antes de ter certeza que ia conseguir, resolvi me matricular logo, em vez de ficar tentando vestibular para as públicas, porque entendo que vestibular em Medicina é um mistério”, conta a estudante. Para se matricular, o aluno tem que desembolsar, de vez, o valor de três mensalidades.
Justificativa
A explicação para os precinhos nada camaradas está na estrutura necessária para uma faculdade ter o curso de Medicina. “A FTC é a única que possui uma policlínica própria, com 30 consultórios e aparelhos modernos, onde os alunos atendem, auxiliados por profissionais. São mais de 20 especialidades médicas e 40 procedimentos”, defende a FTC.
A Unime argumenta que “a implantação de um curso de Medicina requer um alto investimento por parte da instituição”. Entre esses investimentos, a faculdade, por meio de nota, cita a contratação de um corpo docente “com excelente capacitação”, a maioria mestres e doutores, e laboratórios de qualidade.
Por sua vez, a Unifacs diz que “trabalha com o que h á de mais moderno em metodologias voltadas para o aprendizado do adulto”, e que a estrutura do curso conta com tecnologias avançadas para o estudo da Medicina, como um centro de simulação realística que permite que o aluno lide com situações muito próximas da realidade. Entre os recursos tecnológicos estão três protótipos humanos que simulam as funções de um paciente: eles falam, choram, vomitam, têm convulsões e até pulsação. Cada um custou cerca de US$ 250 mil, de acordo com o diretor, Paulo Jesuino.
O CORREIO ouviu estudantes das três particulares que já funcionam em Salvador. Todos eles disseram aprovar a estrutura das faculdades. O campus de Medicina da Unime fica em Lauro de Freitas e terá o seu primeiro vestibular nesse final de semana.
Retorno
Mais do que aprovar as faculdades, os alunos fazem o alto investimento porque sabem que o retorno virá relativamente rápido. “Emprego não vai faltar. Pode até não ser o que você sonhava, mas achar, você acha”, avalia Marília, da Bahiana. “O retorno existe. Pode não ser os quase R$ 6 mil (da mensalidade da Unime), mas vale a pena. Médico trabalha muito, mas dá para ganhar bem”, avalia Allan, da FTC.
Dá mesmo. Se o custo para se formar se assemelha ao de um bom apartamento na Pituba, o preço pago por um único dia de trabalho de um recém-formado também não é pequeno. Segundo o Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), após um plantão de 24 horas num hospital, os doutores recuperam R$ 1,2 mil do prejuízo.
O sindicato é contra a disseminação de cursos de Medicina. “Os cursos já existentes têm deficiências, imagine os novos”, argumenta o presidente, Francisco Magalhães.
Para ele, formar médicos não é igual a formar profissionais de outras áreas, requer mais cuidado. “Trabalhamos com a vida. Aí o governo libera esse monte de curso ‘pela-porco’, formando gente de qualidade duvidosa. Mas, quando dá algum problema, quem tem que responder são os sindicatos”, queixa-se. Segundo ele, não faltam médicos no Brasil.
Mais Médicos O secretário de Saúde do estado, Washington Couto, discorda. “Interessante... ele diz que não faltam médicos, mas chegaram 1,1 mil do Mais Médicos e não ficou ninguém desempregado”, compara. “A Bahia tem 0,9 médico por mil habitantes. O ideal é ter três”.
Foto: Arte/Correio
Bahiana é a 2ª mais barata do país; mais cara cobra R$ 8,8 milSe você ficou impressionado com os quase R$ 6 mil de mensalidade na Unime, prepare-se para esta informação: ele não está entre os mais caros do Brasil. A mensalidade mais salgada está em São Paulo, na Universidade de Marília, onde, para se formar, o aluno precisa desembolsar R$ 8.886 por mês. Ou quase R$ 640 mil ao longo dos seis anos de curso.
Perto dele, os R$ 2.935 cobrados pela Bahiana são uma pechincha. De verdade. A faculdade é a segunda mais barata do Brasil. “Isto se dá devido ao fato de a escola ter sido fundada há 62 anos e ser mantida por uma fundação filantrópica, sem fins lucrativos. Por isso, os valores se mantêm estáveis e a receita das mensalidades é revertida em investimentos”, diz a nota divulgada pela instituição.
Em todos esses anos, já foram mais de 10 mil médicos formados e teve nota 3,57 no último Enade (o máximo é 5). A FTC tirou 4 e a Unifacs não informou. A Unime ainda não consta no ranking elaborado pelo site Escolas Médicas do Brasil, mas a FTC e a Unifacs estão na metade mais cara da tabela. Numa lista de 120 instituições, em ordem crescente de preços, Unifacs é a número 84 e a FTC a 90.
A mais barata de todas é a Unirg, que fica em Gurupi, no Tocantins. Lá, a mensalidade custa R$ 2.841,75 e se o aluno pagar até o dia 10 do mês consegue um desconto de 20%. Esse tipo de promoção é comum nas faculdades.
Allan Xavier, que estudou na FTC, conta que para conseguir um bom desconto passava todos os cheques do semestre de uma vez. Na época dele, a mensalidade, que era R$ 2,8 mil, acabava saindo por R$ 2,3 mil.
Financiar curso é alternativa para alunos com renda mais baixa
Se tivessem sido abertos há mais tempo, possivelmente, os cursos da Unime, Unifacs, FTC e Bahiana não teriam turmas tão cheias, já que boa parte dos estudantes só consegue garantir a vaga cara graças ao Programa de Financiamento Estudantil (Fies).
Foto: Marina Silva
Na Unifacs, por exemplo, 80% dos alunos recorreram ao Fies para pagar o curso. Aluna da primeira turma da FTC, Melaine Montenegro, 31 anos, conta que não poderia pagar a faculdade sem o Fies. Ela acrescenta que teve que assumir riscos ao escolher um curso novo. “Eu me matriculei porque ouvi dizer que na FTC estavam concedendo o financiamento facilmente, mesmo com a mensalidade cara. Aqui, como era a primeira turma, tivemos que arriscar”, explica.
O Fies é o programa do governo federal que financia, desde 1999, o custo das universidades. O estudante que contratar o financiamento só precisa começar a pagar após a formatura. Durante o período do curso, o estudante paga, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50, referente aos juros sobre o financiamento.
Após a conclusão do curso, o estudante tem 18 meses de carência antes de começar a pagar. Em seguida, o saldo devedor do estudante ainda será parcelado. Informações Correio24hs
*colaboraram Joana Rizério e Victor Longo
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Concluir custa caro: A explicação para os precinhos nada camaradas está na estrutura necessária para uma faculdade ter o curso de Medicina
Médicos só trabalham com números altos. A concorrência no vestibular é alta, o investimento na formação é alto e o retorno financeiro também é. Olhe para as duas imagens desta página e saiba que elas custam quase a mesma coisa.
A mensalidade do curso que abre na Unime este mês custa R$ 5,9 mil reais, o que multiplicado pelos seis anos de duração dá um total de R$ 424,8 mil. Dá para comprar o Porsche da foto abaixo e, com o troco, três TVs de LED full HD de 40 polegadas. Em compensação, num plantão de um único dia, um médico tira por volta de R$ 1,2 mil.
As quatro faculdades particulares já existentes no estado têm preços nada acessíveis (veja tabela na página), mas nem por isso faltam alunos. “Meus pais pagavam com a ajuda de uma tia. Além da mensalidade, ainda tinha o transporte, alimentação e os livros, que eram muito caros. Então eu me virava com xerox e a biblioteca, que era muito boa”, lembra Allan Xavier, ex-aluno da FTC e médico há pouco mais de três anos.
“Tem livro de anatomia que custa R$ 900 e uns cursos por fora, de dois dias, que saem por R$ 200”, acrescenta Marília Galvão Cruz, aluna da Bahiana. Ela destaca ainda que, como tem aulas em vários hospitais, acaba rodando a cidade inteira e gastando uma nota com gasolina. “Por sorte, consigo revezar com minha vizinha”, diz.
A mensalidade do curso de Medicina da Unifacs custa mais de R$ 5 mil, o que é justificado pelo alto investimento em laboratórios (Foto: Marina Silva)
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Estudante da Unifacs, Ana Flávia Freire da Silva só consegue arcar com as mensalidades de R$ 5.088 graças ao Fies. “Consegui um financiamento de 100%, mas, mesmo antes de ter certeza que ia conseguir, resolvi me matricular logo, em vez de ficar tentando vestibular para as públicas, porque entendo que vestibular em Medicina é um mistério”, conta a estudante. Para se matricular, o aluno tem que desembolsar, de vez, o valor de três mensalidades.
Justificativa
A explicação para os precinhos nada camaradas está na estrutura necessária para uma faculdade ter o curso de Medicina. “A FTC é a única que possui uma policlínica própria, com 30 consultórios e aparelhos modernos, onde os alunos atendem, auxiliados por profissionais. São mais de 20 especialidades médicas e 40 procedimentos”, defende a FTC.
A explicação para os precinhos nada camaradas está na estrutura necessária para uma faculdade ter o curso de Medicina. “A FTC é a única que possui uma policlínica própria, com 30 consultórios e aparelhos modernos, onde os alunos atendem, auxiliados por profissionais. São mais de 20 especialidades médicas e 40 procedimentos”, defende a FTC.
A Unime argumenta que “a implantação de um curso de Medicina requer um alto investimento por parte da instituição”. Entre esses investimentos, a faculdade, por meio de nota, cita a contratação de um corpo docente “com excelente capacitação”, a maioria mestres e doutores, e laboratórios de qualidade.
Por sua vez, a Unifacs diz que “trabalha com o que h á de mais moderno em metodologias voltadas para o aprendizado do adulto”, e que a estrutura do curso conta com tecnologias avançadas para o estudo da Medicina, como um centro de simulação realística que permite que o aluno lide com situações muito próximas da realidade. Entre os recursos tecnológicos estão três protótipos humanos que simulam as funções de um paciente: eles falam, choram, vomitam, têm convulsões e até pulsação. Cada um custou cerca de US$ 250 mil, de acordo com o diretor, Paulo Jesuino.
O CORREIO ouviu estudantes das três particulares que já funcionam em Salvador. Todos eles disseram aprovar a estrutura das faculdades. O campus de Medicina da Unime fica em Lauro de Freitas e terá o seu primeiro vestibular nesse final de semana.
Retorno
Mais do que aprovar as faculdades, os alunos fazem o alto investimento porque sabem que o retorno virá relativamente rápido. “Emprego não vai faltar. Pode até não ser o que você sonhava, mas achar, você acha”, avalia Marília, da Bahiana. “O retorno existe. Pode não ser os quase R$ 6 mil (da mensalidade da Unime), mas vale a pena. Médico trabalha muito, mas dá para ganhar bem”, avalia Allan, da FTC.
Mais do que aprovar as faculdades, os alunos fazem o alto investimento porque sabem que o retorno virá relativamente rápido. “Emprego não vai faltar. Pode até não ser o que você sonhava, mas achar, você acha”, avalia Marília, da Bahiana. “O retorno existe. Pode não ser os quase R$ 6 mil (da mensalidade da Unime), mas vale a pena. Médico trabalha muito, mas dá para ganhar bem”, avalia Allan, da FTC.
Dá mesmo. Se o custo para se formar se assemelha ao de um bom apartamento na Pituba, o preço pago por um único dia de trabalho de um recém-formado também não é pequeno. Segundo o Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), após um plantão de 24 horas num hospital, os doutores recuperam R$ 1,2 mil do prejuízo.
O sindicato é contra a disseminação de cursos de Medicina. “Os cursos já existentes têm deficiências, imagine os novos”, argumenta o presidente, Francisco Magalhães.
Para ele, formar médicos não é igual a formar profissionais de outras áreas, requer mais cuidado. “Trabalhamos com a vida. Aí o governo libera esse monte de curso ‘pela-porco’, formando gente de qualidade duvidosa. Mas, quando dá algum problema, quem tem que responder são os sindicatos”, queixa-se. Segundo ele, não faltam médicos no Brasil.
Mais Médicos O secretário de Saúde do estado, Washington Couto, discorda. “Interessante... ele diz que não faltam médicos, mas chegaram 1,1 mil do Mais Médicos e não ficou ninguém desempregado”, compara. “A Bahia tem 0,9 médico por mil habitantes. O ideal é ter três”.
Foto: Arte/Correio
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Bahiana é a 2ª mais barata do país; mais cara cobra R$ 8,8 milSe você ficou impressionado com os quase R$ 6 mil de mensalidade na Unime, prepare-se para esta informação: ele não está entre os mais caros do Brasil. A mensalidade mais salgada está em São Paulo, na Universidade de Marília, onde, para se formar, o aluno precisa desembolsar R$ 8.886 por mês. Ou quase R$ 640 mil ao longo dos seis anos de curso.
Perto dele, os R$ 2.935 cobrados pela Bahiana são uma pechincha. De verdade. A faculdade é a segunda mais barata do Brasil. “Isto se dá devido ao fato de a escola ter sido fundada há 62 anos e ser mantida por uma fundação filantrópica, sem fins lucrativos. Por isso, os valores se mantêm estáveis e a receita das mensalidades é revertida em investimentos”, diz a nota divulgada pela instituição.
Em todos esses anos, já foram mais de 10 mil médicos formados e teve nota 3,57 no último Enade (o máximo é 5). A FTC tirou 4 e a Unifacs não informou. A Unime ainda não consta no ranking elaborado pelo site Escolas Médicas do Brasil, mas a FTC e a Unifacs estão na metade mais cara da tabela. Numa lista de 120 instituições, em ordem crescente de preços, Unifacs é a número 84 e a FTC a 90.
A mais barata de todas é a Unirg, que fica em Gurupi, no Tocantins. Lá, a mensalidade custa R$ 2.841,75 e se o aluno pagar até o dia 10 do mês consegue um desconto de 20%. Esse tipo de promoção é comum nas faculdades.
Allan Xavier, que estudou na FTC, conta que para conseguir um bom desconto passava todos os cheques do semestre de uma vez. Na época dele, a mensalidade, que era R$ 2,8 mil, acabava saindo por R$ 2,3 mil.
Financiar curso é alternativa para alunos com renda mais baixa
Se tivessem sido abertos há mais tempo, possivelmente, os cursos da Unime, Unifacs, FTC e Bahiana não teriam turmas tão cheias, já que boa parte dos estudantes só consegue garantir a vaga cara graças ao Programa de Financiamento Estudantil (Fies).
Foto: Marina Silva
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Na Unifacs, por exemplo, 80% dos alunos recorreram ao Fies para pagar o curso. Aluna da primeira turma da FTC, Melaine Montenegro, 31 anos, conta que não poderia pagar a faculdade sem o Fies. Ela acrescenta que teve que assumir riscos ao escolher um curso novo. “Eu me matriculei porque ouvi dizer que na FTC estavam concedendo o financiamento facilmente, mesmo com a mensalidade cara. Aqui, como era a primeira turma, tivemos que arriscar”, explica.
O Fies é o programa do governo federal que financia, desde 1999, o custo das universidades. O estudante que contratar o financiamento só precisa começar a pagar após a formatura. Durante o período do curso, o estudante paga, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50, referente aos juros sobre o financiamento.
Após a conclusão do curso, o estudante tem 18 meses de carência antes de começar a pagar. Em seguida, o saldo devedor do estudante ainda será parcelado. Informações Correio24hs
*colaboraram Joana Rizério e Victor Longo