Outros casos
O caso de Júlia não é único. Várias mulheres também sofreram com a intimidade exposta na internet. Normalmente, quando um vídeo como esse é disponibilizado na rede perde-se o controle.
“Eu confiei. Não imaginaria de forma alguma que ele faria isso.” A afirmação é da jovem goiana Fran, que teve o vídeo feito com um ex-parceiro compartilhado milhares de vezes. Ela virou piada na internet e na cidade.
“Meu celular não parava. O pessoal ligando, mandando mensagem. Eu fiz o boletim de ocorrência na sexta-feira. O pessoal não tinha dado muita importância. Quando foi na segunda-feira, eu vi a proporção que estava.”
Mãe de uma menina de 2 anos, Fran teve de mudar a aparência e parar de trabalhar. Hoje, evita sair de casa. “Ele destruiu a minha vida, eu não tenho mais vida. Eu não consigo sair, não consigo estudar, trabalhar”, afirma.
O ex-parceiro de Fran nega ter divulgado o vídeo, segundo o advogado dele. “Meu cliente nao é a pessoa que está no vídeo, muito menos a pessoa que divulgou aquele vídeo”, diz Hugo de Angelis.
Peritos em crimes digitais confirmam que o número de casais que gravam vídeos de sexo é grande. “Mais da metade dos casais registra ou já registrou o momento íntimo”, afirma a perita digital Iolanda Garay.
Segundo ela, quase todas as vítimas da chamada “pornografia de revanche” são mulheres. Ela aconselha quem quiser se filmar a seguir algumas regras para se proteger. Entre elas estão não revelar o rosto, o nome ou a voz, manter o filme em sua posse e não compartilhar ou enviar por e-mail para o parceiro, muito menos por chat ou dispositivo de mensagem. Além disso, sugere que a gravação seja apagada tão logo seja possível.
É um crime que se perpetua. quando as pessoas postam, quando elas abrem um material desses, elas não têm consciência que isso perpetua o sofrimento da gente"
Rose Leonel, que teve fotos divulgadas por ex no PR
“O pior do crime eletrônico não é você detectar quem foi o agressor. O grande drama do crime eletrônico é toda a carga moral, social, que acaba sobrando para a mulher.”
Sete anos após ser exposta por um ex-namorado, a paranaense Rose Leonel ainda sofre com o ocorrido. “Ele publicou fotos minhas na internet, fez várias montagens e mandou postagens para mais de 15 mil e-mails. As fotos que ele foi colocando tinham o meu telefone, o telefone do meu trabalho, o ramal do meu escritório. Ele chegou a colocar o telefone celular do meu filho”, conta.
Ela diz que homens telefonavam pedindo para fazer programas. “Ele colocava assim, fotos me vendendo como se eu fosse uma garota de programa. E o que mais me doeu foi essa situação de vulnerabilidade dos meus filhos”, diz, sem conseguir controlar o choro.
Rose procurou a Justiça, e o ex-namorado foi condenado por difamação. “Foi uma absolvição moral para mim”, diz. “É um crime que se perpetua. quando as pessoas postam, quando elas abrem um material desses, elas não têm consciência que isso perpetua o sofrimento da gente.”
Para Alexandre Atheniense, da Comissão da OAB sobre Crimes na Internet, o ato de colocar essa gravação na web constitui crime, mesmo quando a mulher permite ser gravada numa situação de intimidade. “A lei Maria da Penha foi criada no sentido de proteger não só a integridade física, mas a integridade psicológica, a dignidade da mulher. E hoje, a vida digital é uma extensão da vida presencial.”
O ex-namorado de uma professora de Minas Gerais também foi condenado após enviar fotos dela nua para milhares de pessoas. O caso ocorreu há nove anos.
Ele teve que prestar serviços comunitários e pagar uma indenização por danos morais. “Acho que a busca de tentar resolver judicialmente a coisa ajuda internamente a gente", diz a professora.
“Eu não sou a única, eu não sou a última, eu não fui a primeira”, revela a goiana Fran.
Fonte: G1 com Informações do Fantástico
Fonte: G1 com Informações do Fantástico
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